Semana de Arte Moderna
Existe uma necessidade na humanidade que segue além de qualquer explicação física, digo física pelo fato dessa necessidade estar mais conectada com nossos outros sentidos e também com nosso senso de beleza e estética. Infelizmente, muitas pessoas acabam passando despercebidas perante alguma obra de arte que lhe traga alguns segundos de esquecimento do mundo que corre ao nosso redor, com seus prédios cinza fincados em ruas mais cinzas ainda. Por isso, a necessidade de colorirmos um pouco a nossa visão.
Talvez foi o que Di Cavalcanti pensou quando idealizou a primeira Semana de Arte Moderna que aconteceu no Brasil. O local mais apropriado para tal evento não poderia ser outro além do Teatro Municipal do Estado de São Paulo, realizado entre os dias 11 e 18 de Fevereiro de 1922. A ideia de Di Cavalcanti era trazer para nosso país as novas tendências expressivas de arte que já eram comuns na Europa, mas, infelizmente os paulistas daquela época que faziam parte da elite do estado, não gostaram da iniciativa do artista pelo fato de serem mais favoráveis ao conservadorismo.
No entanto, Di Cavalcanti, entre outros artistas pensavam exatamente ao contrário. Com seus olhares mais atentos para as novas tendências, perceberam a necessidade de uma renovação no quesito artístico do país, porém, os conservadores não aceitaram prontamente a ousadia dos novos artistas, justamente por não compreenderem a nova faceta da arte e ainda, sem saber exatamente se era algo passageiro ou que viera pra ficar.
O Brasil, naquela época já estava descontente com os rumos anteriores da literatura, grandes escritores ousaram mudar as caras de suas palavras, adotando uma tendência mais moderna para aquela época, autores como: Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida. Já no campo da pintura, vale destacar Anita Malfatti, a responsável pela primeira exposição de arte moderna que ocorreu no ano de 1917. Anita Malfatti foi influenciada pelas novas tendências, como: expressionismo, cubismo e futurismo, até mesmo Monteiro Lobato criticou o trabalho da pintora, todavia, mal sabia ele que suas críticas eram apenas um incentivo para a realização da Semana da arte moderna.
Apesar da não aceitação da elite paulista, a primeira semana da arte moderna foi uma explosão de ideais que trouxeram inovação para a arte, abolindo a estética perfeita que, até então era apreciada. Naquele momento, muitos artistas brasileiros buscavam uma identidade, algo que expressasse livremente suas inspirações e a semana foi um momento divisor de águas neste quesito, no entanto, as pessoas que compareceram ao evento não esconderam sua insatisfação perante obras que não demonstravam nenhum padrão ou sentido. Um grande exemplo dessa recusa foram às vaias que Manuel Bandeira recebeu ao ler seu poema “Os Sapos”.
E mesmo com tantas criticas, a Semana de Arte Moderna continuou sendo realizada no decorrer dos tempos e com o passar dos eventos, as pessoas começaram a perceber a verdadeira importância da arte e de sua renovação conforme o tempo que vivemos. Um dos grandes veículos responsável por este sucesso foram às revistas: Antropofágica e Klaxon e, não podemos esquecer os movimentos que surgiram em prol do modernismo: Movimento Antropofágico, Pau-Brasil, Grupo da Anta e Verde-Amarelismo.
Deixar o passado e as antigas fórmulas para trás é algo muito complicado para muitas pessoas, por isso existiram uma série de boicotes durante a primeira semana, já mencionamos Manuel Bandeira, mas, Villa-Lobos também foi vitima da desaprovação da população daquela época, afinal de contas, a arte brasileira estava rompendo-se com as linhas que decoravam os quadros europeus, algo que, como foi dito, nem todos aceitavam como algo realmente valioso e digno de comentários. Felizmente é algo que aconteceu somente naquele período da história de nosso país, atualmente a arte acabou se transformando em uma energia sincera e menos desprovida de criticas. Hoje em dia, um pintor ou escritor não pensa em tocar o coração de ninguém, pelo contrário, tudo que fazem é pela arte que possuem dentro de si mesmos e que não podem guardá-las somente para eles.