A educação brasileira é estruturada em um sistema que valoriza os resultados acima de qualquer coisa. As escolas esperam que seus alunos atinjam uma nota que irá dividi-los entre aprovados e reprovados.
Assim, a maior preocupação da maioria dos estudantes está centrada em alcançar a média e não em aprender. Muitas vezes ouvimos crianças e adolescentes que chegaram à determinada etapa do ano com um bom rendimento dizerem que já atingiram a nota necessária e se quiserem não precisam mais estudar.
E este tipo de pensamento limitante revela a pouca eficácia deste sistema. Se um aluno conseguiu 60 pontos em 100 ele será aprovado, mas em um olhar mais aprofundado podemos nos perguntar: por que o resultado não foi melhor? Mas a maior parte das pessoas não está preocupada com a resposta. As dificuldades que levaram o aluno a não adquirir o conhecimento necessário para conseguir o restante dos pontos será totalmente ignorada e ele avançará no sistema de ensino mesmo com problemas em boa parte dos conteúdos.
E as lacunas no aprendizado vão se juntar a outras no ano seguinte fazendo com que o estudante tenha mais dificuldade com o passar do tempo e aprenda cada vez menos, mas sem se preocupar muito, já que mesmo com pouco conhecimento ele consegue avançar ano após ano. É por isso que encontramos alguns alunos nos anos finais do ensino médio com dificuldades até mesmo de leitura. O que nos leva à conclusão de que avançar no sistema é bem diferente de aprender.
Por outro lado, a reprovação é vista como uma medida pedagógica e uma punição contra um aluno que não se esforçou o suficiente, que faltou às aulas, que não fez as atividades e que atrapalhou o trabalho do professor, fazendo com que no fim ele não atingisse a nota necessária.
O problema da reprovação é que, na maioria das vezes, o aluno é considerado o único responsável. Mas a aprendizagem também é responsabilidade da escola e do professor. Por isso, os fatores que levaram à reprovação não devem ser ignorados, sejam eles familiares, sociais, pedagógicos ou emocionais.
Apenas fazer o aluno repetir de ano baseando-se em notas não o ajuda em nada, muito pelo contrário. Um levantamento baseado em informações do Censo escolar 2018 mostra que reprovação e evasão são duas coisas que andam juntas. Ou seja, o aluno reprovado perde a motivação e o interesse e pode acabar abandonando a escola.
Quando um jovem não recebe a ajuda e o apoio necessário para continuar sua educação vemos que o sistema fracassou totalmente. O aluno se sente abandonado e incapaz justamente em uma época da vida em que está se desenvolvendo e que costuma ser conturbada, cheia de dúvidas, medos e frustrações.
Para amenizar o problema, em caso de uma possível reprovação, a escola deve manter contanto constante com os responsáveis pelo estudante, desde o momento em que é identificado que ele tem dificuldades. Trabalhando juntos os efeitos negativos da reprovação podem ser amenizados e o problema que interfere no desempenho do aluno vai ser identificado e resolvido. Os responsáveis podem inclusive recorrer a um profissional da saúde para acompanhar o aluno já que algumas doenças podem estar entre as possíveis causas da reprovação.
Em um mundo globalizado onde temos tanto acesso à informação e tantas mudanças ocorrem o tempo todo, talvez seja o momento de repensar o nosso sistema de ensino, ou pelo menos usar todos os recursos disponíveis para dar suporte aos alunos com dificuldades e chegar às raízes dos problemas que levam à reprovação. O primeiro passo para isso é fazer com que a escola, os professores e os alunos esqueçam os números e foquem na busca pelo conhecimento.
REFERÊNCIAS
UNESCO. Educação para Cidadania Global: tópicos e objetivos de aprendizagem. Paris:Unesco,2019.
UNIBANCO. Reprovação não contribui para aprendizagem. Aprendizagem em foco. Disponível em: https://www.institutounibanco.org.br/aprendizagem-em-foco/32/. Acesso em: 26 nov. 2020.
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