Filme: Ensaio sobre a Cegueira – Ética Geral e Profissional
Por Daiane, Patrícia e Valdecir
Disciplina: Ética Geral e Profissional
“Ensaio sobre a cegueira”, do diretor Fernando Meireles, é um filme baseado na obra de José Saramago, onde retrata como o ser humano é capaz de perder anos de civilização ao ser privado de um de seus sentidos. O filme conta a história de uma epidemia da chamada “cegueira branca”, na qual todos os infectados são isolados em manicômios desativados, porém a cegueira afeta a todos, sem distinção de raça, cor ou classe social.
Com base no texto de Álvaro L. M. Valls, trabalhado em sala de aula, será feito uma ponte entre o mesmo e o filme, sob a ótica da ética e a ideia de liberdade.
No filme havia um cego na ala três que, impondo uma política de ditadura, se privilegiava dos cegos das outras alas do manicômio, roubando-os e fazendo com que trocassem objetos e favores pela comida que haviam recebido para ser dividida igualmente. Para Hegel num Estado em que apenas um homem é livre ninguém é livre, nem mesmo o tirano (VALLS, 1964, p. 52), o cego tirano da ala tres mesmo tendo regalias, vantagens e liberdade para realizar seus atos, ainda assim não era realmente livre, pois vivia em igual condição de prisão física do que os demais.
O autoritário da ala três dominava os demais cegos por meio da racionalização do alimento, para Marx a dominação do homem pelo próprio homem (VALLS, 1964, p. 57) era inaceitável. As atitudes do cego da ala três deveriam ser severamente punidas aos olhos de Marx. Trazendo para a atual realidade, pode-se perceber que o ser humano sempre está a dominar outros de sua espécie, nem sempre com prisões físicas, mas com prisões psicológicas, por exemplo, quando o chefe ameaça despedir o funcionário caso exerça alguma atitude indesejada pelo primeiro, isso tira do funcionário a liberdade de realizar o que julga correto.
Outro ponto interessante é que se a um grego fosse incumbido uma analise das atitudes dos isolados, ele afirmaria que todos os cegos da ala tres são ignorantes, que não conhece o bem, por isso praticam o mal (VALLS, 1964, p. 60). Kierkegaar, pensador dinamarquês, dizia o contrário, que o homem pode conhecer o bem e preferir o mal, os cegos da ala três eram livres para decidir voluntariamente se exerceriam o bem ou o mal. Assim são as pessoas, tantos escolhem realizar atos anti éticos e amorais a praticarem o bem à sociedade.
A seguinte citação do texto “a liberdade aumenta com a consciência que se tem dela, embora simples “consciência de liberdade” ainda não seja a liberdade
(…) real” (VALLS, 1964 p. 53) , reporta-se ao filme quando os cegos saíram do manicômio, foi preciso um grande acontecimento para que os cegos em quarentena percebessem que não estavam mais sendo vigiados, podendo assim conscientizarem-se que estavam livres da prisão física do alojamento. Mesmo que a “prisão” da privação da visão ainda continuara eles puderam sentir a liberdade física, saindo do alojamento, buscando um lugar melhor para se abrigarem.
Para Hegel o Estado é “a instância do universal, instância preocupada com a realização do bem comum e com a harmonização dos interesses contrários da sociedade civil burguesa”. Marx critica essa ideia dizendo que o Estado não seria o universal harmonizador, mas o particular dominador, seria um instrumento conquistado por uma classe (VALLS, 1964, p.54). Pode se interpretar de duas formas a atitude do governo ter isolado os infectados no filme. Primeiramente a favor de Hegel, o governo preocupado em preservar o bem estar e a saúde da população, isolou os infectados, com o intuito de conter a cegueira, mesmo porque não se tinha o conhecimento da causa do problema, seria necessário então estudar os infectados para que pudessem achar uma “cura” para a doença.
Por outro lado, pode-se interpretar que o Estado dominador, disposto a preservar a “classe alta”, isolou os infectados que não passavam de pessoas simples e comuns, entre eles não havia, a princípio, nenhuma autoridade ou pessoa de renome. Se isso for tomado como verdade, Marx ficaria satisfeito, pois durante o filme deixa claro que até a prefeita da cidade foi infectada, ou seja, a cegueira afetou até mesmo a classe “burguesa” do filme.
Diante a essas reflexões pode-se dizer que a cegueira retratada por Saramago não significa apenas a ausência da imagem através dos olhos, mas também deixar de enxergar o que for conveniente. O escritor não trata apenas da cegueira física, mas da cegueira moral dentro da qual a sociedade está inserida.
Referências Bibliográficas
VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética. 9ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Texto enviado às 16:52 – 14/04/2011
Autores: Daiane Franceile da Rocha, Patrícia Grotti Schebeleski e Valdecir Antônio de Oliveira
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