Pedagogia

As finalidades e os objetivos da educação física escolar

Por Allan José Silva da Costa

Introdução:
No mundo atual observa-se a presença de uma realidade estimuladora da competitividade entre os homens e, infelizmente, a educação física também se enquadra neste contexto visto que hoje em dia parece assumir um caráter de treinamento ou adestramento do movimento corporal (Santin, 1987). Na escola o ambiente não é diferente e por este motivo as aulas de educação física se transformaram em verdadeiros treinamentos desportivos que visam colocar os alunos como “ máquinas de rendimento” as quais tem por fim atingir a capacidade de obtenção dos melhores resultados nas competições inter-escolares.

Perante esta situação descrita acima o presente artigo parte do seguinte problema: será que podemos alterar a realidade da educação física escolar de modo a colocá-la novamente no seu eixo educativo em detrimento de seu caráter adestrador observado na atualidade ? ao longo deste texto tentaremos responder a esta pergunta e por conseqüência resolver tal problema, sendo que para isto elaboramos algumas metas a serem atingidas. Estas metas consistem em: 1) identificar quais são as verdadeiras finalidades e objetivos da educação física escolar e 2) analisar um modo de como chegar a atingir tais objetivos durante as aulas nas escolas. Se ao final deste estudo tais metas forem alcançadas acreditamos que o conteúdo aqui descrito será de fundamental importância para nós, educadores físicos, pois como profissionais da área é importante que tenhamos conhecimento do que na verdade a educação física escolar se propõe e de que maneira podemos atuar no sentido de fazer com que ela não se transforme em uma simples atividade onde o aluno acaba com aparência cansada, extenuada e incapaz de retomar o restante das atividades escolares, como acontece normalmente hoje em dia.

A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E SEUS OBJETIVOS: COMO ATINGI-LOS ?
Ao contrário do que muitos pensam a educação física escolar não deve ser totalmente dissociada do esporte, já que um de seus objetivos consiste em promover a socialização e interação entre seus alunos, o que há de se reconhecer que o esporte proporciona. O grande questionamento que se faz a respeito do esporte na escola é que ele muitas vezes transfere para o aluno uma carga de responsabilidade muito alta quanto à obtenção de resultados, o que afeta a criança psicologicamente de uma forma negativa (Barros Neto, 1997). Desta maneira, as atividades recreativas e rítmicas poderiam ser consideradas como meios mais eficazes para promover esta socialização dos alunos que a educação física escolar tanto apregoa, uma vez que normalmente são realizadas em grupos os quais obedecem ao princípio da cooperação entre seus componentes, estimulando assim a criança em sua apreciação do comportamento social, domínio de si mesmo, autocontrole e respeito ao próximo.

Outro objetivo da educação física escolar consiste no estímulo a atividade criativa do aluno. Segundo Le Boulch (apud Barros e Barros, 1972) as crianças que estão na faixa etária entre 2 e 7 anos devem ser estimuladas ao máximo em sua capacidade de criação e por isso as aulas de educação física na escola devem basear-se no atendimento aos diversos aspectos naturais da vida ao ar livre e na liberdade de movimentos, ou seja, expansão de atividades espontâneas e criativas. Assim, por exemplo, para fazer com que a criança desperte mais sua capacidade de imaginação o professor pode oferecer uma aula através de atividades rítmicas na qual peça a seus alunos para se movimentarem livremente de acordo com o som que estão ouvindo, ao invés de determinar quais movimentos cada aluno deve fazer a uma ordem sua. Também neste período entre 2 e 7 anos ocorre um fato muito importante para o estímulo à criação nas crianças, uma vez que é neste espaço de tempo que elas aprendem a ler e assim descobrir um novo mundo, repleto de atrações e de novas situações que contribuem para aumentar-lhes o poder imaginativo concorrendo, assim, para o desenvolvimento de sua capacidade criativa. Ainda neste contexto, Gonçalves (1997) nos fala da importância existente no fato de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que movimentos mecânicos realizados abstratamente só contribuem para a inibição da criação e da participação dos alunos em aula e, por conseqüência, os torna indivíduos que deixam de interpretar o mundo por si próprios e passam a interpretá-lo pela visão dos outros.

Mais um objetivo da educação física escolar consiste no desenvolvimento orgânico e funcional da criança, procurando, através de atividades físicas, melhorar os fatores de coordenação e execução de movimentos. Para atingir este objetivo, Barros e Barros (1972) nos fala que:

(…) “as atividades de correr, saltar, arremessar (atletismo ligeiro), trepar, pendurar-se, equilibrar-se, levantar e transportar, puxar, empurrar, saltitar, girar, saltar corda permitem a descarga da agressividade, estimulam a auto-expressão, concorrem para a manutenção da saúde, favorecem o crescimento, previnem e corrigem os defeitos de atitude (boa postura)”(…) (p.16)

Assim, fica claro a importância que o professor tem em proporcionar aos alunos atividades cuja caracterização permitam aos mesmos uma movimentação constante e de exploração máxima do ambiente. É evidente que estas atividades devem ser adequadas ao estado de desenvolvimento de cada criança para assim fazer com que os movimentos sejam próprios ao seu grau de desenvolvimento morfofisiológico, o que contribui de maneira significativa para o avanço orgânico e funcional dos alunos em cada etapa de sua vida escolar.

Por último destacaremos um objetivo da educação física escolar o qual consiste em desenvolver a aprendizagem de gestos e movimentos fundamentais das diferentes formas de atividades físicas e desportivas. Em torno deste tópico é que se situa a grande discussão que se faz a respeito da educação física na atualidade, uma vez que muitos o vêem como um estímulo ao simples desenvolvimento físico através de gestos e movimentos padronizados, tirando assim o caráter educacional pertencente a educação física que visa atuar sobre a formação do caráter humano e contribuir para um maior rendimento do trabalho intelectual. Sobre isto, De Marco (1995) nos mostra a educação física como sendo:

(…) “ um espaço educativo privilegiado para promover as relações interpessoais, a auto-estima e a auto-confiança, valorizando-se aquilo que cada indivíduo é capaz de fazer em função de suas possibilidades e limitações pessoais” (…) (p. 77)

Novamente o esporte será um fator prejudicial visto que em muitas vezes não respeita tais limitações pessoais em cada indivíduo e acaba por prejudicar o desenvolvimento orgânico e funcional do mesmo. Outro autor que se manifesta contra o ensino de gestos e movimentos padronizados é João Batista Freire (1991) a quem atribui à educação física um papel de ensino de movimentos respeitando as individualidades da criança, o estímulo à liberdade e à criatividade individual. Neste contexto o professor assume um “personagem” o qual deve aplicar as atividades físicas por meio de exercícios de fácil execução, com graduação para cada idade e tendo em conta a evolução física e psíquica do aluno, dando-lhe liberdade para movimentar-se espontaneamente e da forma que desejar. Estes movimentos de caráter mais subjetivo e espontâneo caracterizam o que Kunz (1994) denomina de “mundo fenomenológico dos movimentos” o qual, em sua opnião, afastaria de vez uma provável limitação existente na “educação física mecanizada” e desta forma o proveito pedagógico que poderia se tirar do processo ensino-aprendizagem seria bem maior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Perante a análise e discussão dos objetivos da educação física escolar, feitas anteriormente, a conclusão mais importante a que podemos chegar deste artigo de pesquisa é que realmente existe uma necessidade de se alterar a maneira pela qual ela é exercida atualmente e, sim, é possível promover esta alteração pedagógica de modo a se tirar um maior proveito do processo ensino-aprendizagem, sendo que para isto não precisamos necessariamente abandonar os movimentos de caráter desportivo, mas adapta-los a uma realidade que não exerça sobre os alunos uma pressão constante na busca incessante de resultados. Desta forma podemos sugerir àqueles que militam na área escolar a realização de uma metodologia que estimule o aluno em todas as esferas de seu comportamento humano (motora, cognitiva, afetiva e social) e não somente a motora, como observa-se atualmente. Cabe agora a nós educadores físicos, estudarmos e conhecermos o que cada aluno pode potencialmente realizar e em quais condições pode apresentar um nível de desenvolvimento que lhe permita realizar determinados movimentos ordenados pelo professor, para que assim possamos contribuir, dentro da educação física escolar, com o avanço do processo de desenvolvimento motor o qual ocorre em todos nós, seres humanos.

(…)” pensando nestas questões volto-me para as escolas e percebo a importância de se declarar a educação motora como uma atividade prazerosa que se mostra como um fenômeno cultural com propostas educacionais. Que não privilegie apenas a competição, mas que proporcione a auto-superação. Que não se limite a conteúdos pré-determinados, mas que atenda aos anseios e às necessidades do homem. Que não se comprometa em adestrar movimentos, mas que se preocupe com a corporeidade do corpo-sujeito. Que não se fundamente numa concepção dualista, mas que saiba caminhar em direção a novos paradigmas. Que não vise ao puro rendimento motor, mas que descortine possibilidades ilimitadas de movimento” (…) (D e Marco, 1995, p.118)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
· BARROS NETO, Turíbio Leite de. Início da criança no esporte In: Exercício saúde e desempenho físico. São Paulo: atheneu, 1997.

· BARROS, Daisy., BARROS, Darcymires. Educação física na escola primária. 4 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972.

· DE RESENDE, Helder Guerra. Necessidades da educação motora na escola. In: DE MARCO, Ademir (org). Pensando a educação motora. São Paulo: papirus, 1995.

· GONÇALVES, Maria Augusta Salim. SENTIR, PENSAR, AGIR: Corporeidade e educação. 2ed. São Paulo: papirus, 1997.

· KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: editora unijuí, 1994.

· SANTIN, Silvino. EDUCAÇÃO FÍSICA: Uma abordagem metodológica da corporeidade. Ijuí: editora unijuí, 1987.

· FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo: scipione, 1991.

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Fonte:
http://www.allanedfisicaartigos.hpg.ig.com.br/carreira/43/index_int_6.html