Pedagogia

A Questão da Educação em Geral – Educação Ambiental

PERCEPÇÕES AMBIENTAIS
Caminhos para o desenvolvimento pessoal e profissional

Por Josef David Yaari

Introdução:
(Em busca de uma visão antropológica para a questão educacional)

Para que ocorram efetivas mudanças atitudinais, compreendemos que há necessidade de uma genuína atividade pedagógica. Parece-nos que os professores deveriam ter mais oportunidade de se conhecer como pessoas, como profissionais, tendo tempo de refletir sobre sua própria atividade não só na escola, mas também em toda comunidade.

“Em educação, a opção pelo aprender a aprender, parte do pressuposto de que qualquer experiência não é só de um indivíduo, mas se dá num contexto, na relação com os outros, considerando que a autoridade vem da experiência e que esta não é prerrogativa daquele/a que está desempenhando o papel de professor/a. Pressupõe ainda uma postura dialógica e geradora de autonomia, numa perspectiva de construção contínua do conhecimento (Freire, 1998).

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Embora esses tipos de teses estejam cada vez mais freqüentes em várias instâncias da comunidade, parece-nos que, na verdade, as pessoas na vida quotidiana e, mesmo nas atividades educacionais, não estão assimilando estas mudanças. Há como que uma acomodação contínua. Ficamos chocados com as crises econômicas e com desastres ambientais, mas há, pelo menos a impressão de que, no fundo, nada muda.

Ocorre, com freqüência, a confusão entre a ciência da Pedagogia com a ciência da Comunicação. Ou seja, há uma ênfase em veicular, da melhor forma possível, o máximo de informações, com a crença de que assim poderá se obter mudanças de atitudes. Ocorre, ainda, subjacente à crença comum, a imagem, vaga ou difusa, de que o ser humano tem de vencer por uma luta contra seus concorrentes. Essa crença, provavelmente existe em função de se atribuir ao modelo darwiniano a idéia de que só se manterá viva a espécie que for a mais forte. Não se pode negar aí um estímulo a atitudes predatórias. Embora pela observação dos fenômenos naturais fica evidente a existência de conflitos e lutas com resultados onde a vitória seja dos mais fortes, sem negar a teoria da “seleção natural”, acreditamos ser perigoso afirmar a necessidade da concorrência, no sentido da obrigatoriedade de eliminar ou neutralizar a ação de outros. Acreditamos que só podemos detectar o conflito como um dos elementos da convivência entre as diferentes formas de vida. Mas também, ao longo da história, o ser humano já provou o quanto tem sido benéfica a convivência criativa com a diversidade.

Diante destes fatos, acreditamos na urgência de se abordar, prioritariamente uma discussão de nossos fundamentos antropológicos. Em outras palavras, ocorre a necessidade de um aprofundamento na caracterização do que podemos denominar nossa “identidade”.
Explicando melhor: há uma idéia dominante, não plenamente consciente, de que o ser humano deve seu “sucesso”, na escala evolutiva, à inteligência. Esta, para o senso comum, é caracterizada por esperteza, sagacidade. Daí, na convivência com adultos e crianças é muito comum verificar como a “criança esperta” é muito valorizada em detrimento da criança terna, sensível e reverente.

O que é o ser humano? Quando lembramos de nossos filhos, que tipo de ser humano queremos formar? Para onde caminhamos nos projetos e processos educacionais?

Os problemas financeiros, afetivos e sociais fazem com que a maioria busque aconchego e soluções em “cursos”, “terapias” ou “doutrinas”. Mas por trás dessas afirmações, mesmo científicas, ocorrem ideologias mais voltadas ao jogo do poder do que a favor do crescimento humano e da ternura.

Como poderemos nos encontrar livremente aceitando conviver com as diversidades?

Precisamos nos encontrar para des-cobrir as “narrativas próprias de nossas identidades”.

Por mais que se façam declarações a favor de uma ação ética, de um desenvolvimento sustentável e tudo que contribuiria para a melhoria da vida humana, os fatos demonstram que a ação dominante ainda dá prioridade a atitudes predatórias no comportamento social e no mercado em geral. A “mídia” não atende às necessidades reais alimentando o imaginário estabelecido pela busca do sensacional.

No entanto, isso pode ser mudado:
Estimulando encontros entre as pessoas, ocorrem técnicas e dinâmicas, que sob firme coordenação, extraem o melhor de nós, fazendo emergir a id-entidade singular, única, que está por trás dos diversos personagens que exercemos.

Para que se acomodar numa vida incômoda?
Quando perguntamos a alguém, ou até a nós mesmos: “quem é você?”, estamos abrindo caminho a uma narrativa que caracteriza e expressa uma vocação de nossa identidade.

Mas qual é a narrativa que leva à identidade singular, única, por trás dos diversos personagens que exercemos?

A proposta trans-pessoal refere-se a uma id-entidade espiritual, além das personas, ego ou outras formas, mesmo arquetípicas… Esta id-entidade só seria acessível pela consciência contemplativa (ou pelo pensar inspirativo). Quando nós aqui estamos chamando a atenção para esta id-entidade, talvez estejamos falando do mesmo fenômeno. Desconfiamos, no entanto, dessas elaborações lógicas, como, em geral, vem fazendo a assim chamada psicologia trans-pessoal. Desconfiamos desses saberes hierarquizados, normatizados, que, apesar de citarem estados diferentes de consciência, tem ainda assim, a tendência de estabelecerem certa linearidade no pensar.

Qualquer definição ou mesmo uma caracterização pode precipitar formas prontas, evitando o cuidadoso tatear que acesse a contínua meta-forma!

O enfoque na Educação Ambiental:
Voltando à questão educacional, desde há muito, as pessoas quando se referem a meio-ambiente ou à questão ambiental estão com a representação de “coisas” e “eventos” da natureza, raramente incluindo os processos culturais e, ainda em geral, não se incluindo em nenhum dos processos.

Assim verificamos em vários programas de Educação Ambiental e nos muitos projetos de “conscientização” em relação ao meio ambiente, que, normalmente se dá ênfase na comunicação da idéia de que devem se multiplicar os cuidados com os rios, árvores, animais, etc. no sentido, ainda, de se entender a preservação como um modo de maior tempo de sobrevivência do ambiente natural sem uma abordagem firme e discussão efetiva visando uma mudança de atitudes no consumo ou nos valores e ações culturais.

Dessa forma, estamos tentando mostrar que além de se repetir o enfoque, quase único na comunicação há ainda a idéia de se trabalhar apenas no sentido de adiar ou ter mais tempo de uso dos recursos naturais.

Dessa forma este trabalho propõe, então, que os professores sejam melhor estimulados por meio de encontros onde, além de se conhecerem melhor e refletirem sobre sua responsabilidade na comunidade, assumam o desenvolvimento pessoal e profissional por meio de metamorfoses contínuas no pensar, sentir e querer.

Há, então, menor atenção na forma adequada para se conseguir uma efetiva mudança de atitudes das pessoas em relação à alteração de hábitos de consumo, busca de valores e ações que priorizem uma vida interna mais intensa com o resultado de diminuição ou até a metamorfose de atitudes predatórias para atitudes de convivência e respeito com o “Outro”. Este “Outro” compreende não só a natureza, mas também as pessoas com toda diversidade de modos de vida, crenças e valores em geral.

É fácil verificar e, mesmo nas muitas conversas já é do senso comum, que as atividades psicológicas mais amplas não são solicitadas nem estimuladas, uma vez que os sentimentos, expectativas e pensamentos ficam restritos e circunscritos à sensação, em geral banal, provocada por essa “mídia”. Assim, por falta de maior conteúdo, ocorre grande ansiedade e dificuldades para o estabelecimento de critérios mais amplos e claros, tanto na vida pessoal quanto profissional. Os resultados dessa situação são decisões imaturas com conseqüências danosas à comunidade.

Ainda ocorre que as pessoas em geral e, até excelentes profissionais são os maiores consumidores de vários produtos supérfluos, além de “alimentos” que enganam o organismo e de “medicamentos” supressores de sintomas. Estes sintomas, indicativos da necessidade de mudança nos ritmos e nos processos de vida, assim suprimidos, adiam as resoluções efetivas, fazendo com que estas lideranças e a comunidade como um todo fiquem girando em círculos viciosos.

O “vazio” existente na vida cultural e pelas relações imaturas, é disfarçado por ascensão material que leva necessariamente ao contínuo consumismo, atitudes predatórias, relações promíscuas e tudo o mais bem conhecido de todos nós.

Podemos depreender daí uma crescente falta de fundamentação filosófica, pouco contato com a vida interior e pouca experiência com diversidades culturais. É a sensação que, como já dissemos, se estabelece como critério usado no nivelamento cultural. A “mídia” conscientemente mexe com a sensação das pessoas atingindo-as na vontade. Esta, sem dúvida, é sagrada mas, quando atingida desse modo, se expressa pelo lado mais superficial.

Tudo isso, é óbvio, leva ao Comprometimento Ambiental na medida em que o comportamento das pessoas, na grande maioria de suas ações, causa significativos desequilíbrios:

1)Planejamento rápido, sem paciência para aprofundamento dos assuntos;

2)Tendência de trabalhar com a racionalização e a vontade, atropelando seus próprios sentimentos, além dos sentimentos dos outros;

3)Relacionamentos pessoais/profissionais instáveis e vínculos imaturos, causando desgastes pessoais/profissionais para si e para os outros, além do gasto de energia de todo tipo pelas idas e vindas sem sentido;

4)Consumo (e estimulo para que os outros consumam) da maioria dos “alimentos”, “medicamentos” e tantos outros produtos descartáveis, poluidores, onde, ainda, devem ser incluídos a maioria dos chamados “cursos de reciclagem”;

5)Participação, como tentativa de obter maior harmonia, em “tribos” ou grupos que acreditam obter maior “relax” em “happy-hours”, viagens e “festas” que, de fato, nada comemoram, pois apenas se justificam em si mesmas como “fugas” do quotidiano estressante e que claramente deterioram ainda mais a relação comprometida com a vida. Não ocorre, de fato, a interatividade que estimule o crescimento pessoal. Nessa mesma linha de atuação, ocorre, ainda, a tendência àquilo que poderia ser chamado de “espiritualidade profana” (participação em seitas ou religiões isentas de fundamento científico ou de experiência efetiva com a vida interna);

6)Mesmo no conceito “desenvolvimento sustentável” suas representações são estabelecidas no fundamento de que é necessário agir procurando um “equilíbrio” com a natureza na medida em que esta está a “serviço” do homem. Essa postura “finalista” continua predatória, priorizando a competência em detrimento da convivência, estimulando fixações em padrões discutíveis no agir, sentir e pensar;

7)As pessoas são estimuladas a escolher seus “melhores” personagens procurando reprimir ao máximo o “autor” de si mesmas, ou seja, reprimem a expressão de sua efetiva singularidade, servindo mais a estereótipos. Os personagens, pela banalização da democracia (ou democratização da banalidade?), tem muito mais valor do que os autores do “script”…

Ora, é com estas bases e parâmetros que as pessoas em geral, mas, principalmente aquelas que são líderes, tomam decisões e atitudes que agridem o meio ambiente em todos os níveis atingindo a vida quotidiana de todos nós.

A idéia comum é conseguir uma sobrevida de um mesmo paradigma que já provou criar mais problemas que soluções.

E devemos lembrar o texto do professor João Ribeiro Júnior (2002), quando, citando Heidegger, nos mostra outra maneira de se compreender a existência da banalidade. Ora, em outro parágrafo desse mesmo texto, ele, ainda, diz:

“O homem é o único ente que pode interrogar-se a si mesmo acerca de seu ser. O Homem não é um que coisa, mas um quem, uma existência. A essência do homem consiste em sua existência. Mas o homem, para Heidegger, existe no sentido de um ser-no-mundo, não como uma parte, mas como abertura ao mundo, como cuidado do mundo.

Ou seja, somos chamados não para sermos participantes passivos no mundo, mas para uma ação significativa, para o “cuidado” das coisas no mundo.

Paulo Freire (FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 8ª ed. S.P.: Ed. Paz e Terra, 1998). numa palestra pública e em conversa pessoal, declarou que, infelizmente, a Universidade em geral, dedica-se mais à procura do rigor para o senso comum do que a buscar e estimular conteúdos que possam ir além desse senso comum.

Platão em seus “Diálogos” já apontou a necessidade de se perguntar mais para estimular as pessoas a superarem o quotidiano e muitos autores se valem da visão de Aristóteles no sentido de que o máximo de “potência” se torne “ato”.

Milton Santos (SANTOS, M. A Natureza do Espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Editora Hucitec, 1996. 308p.) retoma a noção de Totalidade tão fecunda para a compreensão dos fatos, apontando para a necessidade de se ampliar essa visão quando abordamos nossos espaços e nossos tempos. Assim, uma apreensão tímida dessa Totalidade necessariamente nos levará a ações tímidas no uso dos espaços, empobrecendo a materialização ou a concreção da realidade mais ampla que fica só na “potência”, ou, falando de outro modo, no discurso. É preciso ler todo o capítulo 4 da obra citada.

Pode se depreender dessa leitura, e, esta é uma elaboração pessoal, que na cisão cultural na qual estamos vivendo, ocorre o perigo de ficarmos num vazio não-criativo. Isso se deve à perda de referências inclusive em relação à ordem intrínseca às coisas, já que o relativismo com a noção equivocada do pós-modernismo, chega a por em dúvida, equivocada (que se repita), até da ordem intrínseca dos objetos. Essa mera especulação típica de uma cultura vigente da especulação por especulação, um narcisismo renovado, sem nenhum sentido, é que leva à curtição da sensação tão empobrecida pela “mídia” que multiplica a banalidade à exaustão…

Merleau-Ponty, Habermas, Michel Foucault, provavelmente a partir da grande mudança filosófica que ocorreu a partir de Martin Buber, além de tantos outros autores têm apontado para a necessidade de ações que atinjam, de fato, cada indivíduo, numa ação “micropolítica” por meio de um ativo “intersubjetivismo”.

A respeito do ser e tempo. Heidegger diz que o homem, definido como o ser-aí está, antes de mais nada e em geral, perdido naquilo que cuida, em enquanto, com o qual constrói a ilusória imagem da temporalidade linear e infinita. Segundo Heidegger, o homem faz isto para iludir a confrontação com a realidade de um tempo finito que desemboca na morte.

Frente à angústia que o nada da morte lhe produz o homem tem duas vias possíveis: a primeira consiste no ensimesmar-se no mundo, perdendo-se na banalidade cotidiana, inventando assim o tempo como sucessão infinita de agoras. Nesta forma de vida inautêntica, o si mesmo vem a ser o ser impessoal e anônimo, o se diz, se faz e se morre
(João Ribeiro Júnior em artigo na Revista CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO no. 06 – 2002)

Além disso, desde o início do séc. XX ocorreram muitas manifestações
(veja-se Steiner, Bachelard, entre outros, além da tradição vinda desde Heráclito) que buscaram a revisão da metodologia científica ainda sobrecarregada de um positivismo há muito superado…

Aqui, entre nós, Alves e, mais recentemente, Boff, não deixam de mostrar as tantas facetas do que deveria ser uma educação libertadora.

Sato,em vários trabalhos tem demonstrado a necessidade de uma visão mais ampla da Educação Ambiental, onde nos lembra que:
“…o raciocínio racional-empírico-técnico jamais anulou o conhecimento simbólico, mítico ou poético”(Morin). Assim, sentimo-nos únicos em nossos dramas e alegrias; no sono e na vigília. Somos todos e, ao mesmo tempo, cada um. “Somos híbridos, que vivemos à temperatura da nossa combustão, da nossa destruição” (Morin, 1998: 249).

Assistimos o surgimento de uma ciência que não mais se limita a situações simplificadas, mas nos põe diante da complexidade do mundo, uma ciência que permite que se viva a criatividade humana como a expressão singular de um traço fundamental comum a todos os níveis da natureza.
(Prigogine, 1996: 14)

“A complexidade é um enfoque que nos leva a pensar o uno e o múltiplo conjuntamente” (MORIN, 1996: 115). Permite integrar conceitual e metodologicamente o certo e o incerto, apresenta a necessidade de considerar as noções de ordem e desordem, de azar e necessidade, em suas características antagônicas e complementares.

Parece que a imagem do conhecimento que obtemos descrevendo o sujeito situado no mundo, deva ser substituída por outra segundo a qual o sujeito constrói ou constitui este mundo; e esta é mais autêntica do que a outra, pois o comércio do sujeito com as coisas a seu redor só é possível se primeiramente ele as faz existir para si, as dispõe em torno de si e as retira de seu próprio fundo.
(Merleau-Ponty, 1971: 171)

“Não é exagero falar desta transformação conceitual como uma verdadeira metamorfose da ciência” (Prigogine & Stengers, 1997: 1 “

Assim Edgar Morin enfatiza a necessidade de uma atitude fundamentada mais num “pensar complexo” em relação à vida contra toda essa banalização já tanto denunciada… Todo o livro propõe, na verdade, uma rediscussão da teoria do conhecimento, centrada numa visão “complexa” do ser humano.

Lacan em sua gigantesca revisão da psicanálise demonstra como o discurso, principalmente o “científico”, tornou-se um “discurso do mestre” que é um engodo bem formulado que apesar de indicar uma relação com o real, encobre-o na procura de racionalizar este algo, na verdade inapreensível. Assim estamos sempre tangenciando o real nesse movimento de toda produção humana, material ou espiritual, como sendo da ordem do simbólico e do imaginário. Só o pensar criativo abre outras brechas.

Falta, portanto, a coragem de vencer a preguiça para que possamos ouvir nosso querer, essa vontade mais profunda oculta nos instintos, impulsos e desejos que tem, contra toda má vontade do intelectualismo, o fundamento na ordem natural e espiritual.

O imperativo da interatividade pessoal não pode prescindir da existência concreta e indiscutível dos princípios, da Ordem imanente e sagrada que está acima da mera discussão intelectual profana onde o pós-modernismo se instaura com essa tendência de querer um “final feliz”, esse aparente “compreender” a diversidade. Esse “compreender” com esse olhar de cima, típico da arrogância daqueles que se dizem detentores do “discurso do mestre”, oculta a falência do intelectualismo morno, despido, portanto, da coragem de ir adiante.

Rudolf Steiner, retomando os trabalhos de Goethe, apontou a necessidade de retomarmos a idéia da metamorfose contínua como processo educativo. Assim, usando nas atividades pedagógicas, principalmente os critérios da interatividade, da experiência com a expressão artesanal e artística, ele propôs pela assim chamada Pedagogia Waldorf ou Antroposófica formas criativas que levassem a uma efetiva educação por mudanças de atitudes e não apenas por mudanças do discurso.

Seminário de Educação Ambiental
O alheamento acima descrito e tantos outros fatos examinados também foram verificados em Campos do Jordão, tanto entre os professores da rede municipal de ensino, em burocratas da administração pública, empresários e população em geral.

Partimos de uma pesquisa-intervenção por meio de um Seminário de Educação Ambiental que teve como objetivos os seguintes aspectos:

1) Desenvolver um processo de capacitação em meio ambiente para professores, que estimule os atos criativos pelo crescimento da sensibilidade, do conhecimento e de habilidades, visando a realização de metamorfoses no pensar, sentir e agir para o contínuo desenvolvimento pessoal e profissional.

2) Examinar os aspectos pedagógicos e de comunicação que influenciam as atitudes de compromisso social dos professores tendo como premissa o respeito ao meio ambiente físico, psicológico e cultural.

Daí, a partir da consecução destes objetivos iniciais:
– Contribuir para uma ampliação das práticas estabelecidas sob o nome Educação Ambiental, estimulando educadores para um maior comprometimento com a preocupação quanto ao meio ambiente, sendo este compreendido em seus aspectos físicos, psicológicos e culturais;

– Perante a constante necessidade de uma contínua reciclagem de professores, administradores e outros profissionais para que se tornem multiplicadores capacitados para dar fundamentos necessários para a pessoa antes de lhe dar os conteúdos relativos à função que ela irá exercer, contribuir para com sugestões para os cursos de formação profissional, visando uma orientação amplificada do conhecimento e um estímulo ao desenvolvimento simultâneo das capacidades pessoais e profissionais.

Com estes objetivos houve a atuação consciente para mudar o modo de pensar comum incluindo novas formas no sentir e agir, estimulando o maior comprometimento dos educadores com as demandas sociais.

Além disso, queremos demonstrar que qualquer programa educativo e, no caso, em especial um Programa de Educação Ambiental, é, antes de tudo, um programa de estímulo à auto-educação contínua que propõe constantes metamorfoses no pensar, sentir e querer.

A proposta visou atingir o ensino fundamental e médio, com ênfase em dinâmicas de grupo, exercícios de sensibilização, estímulos para que os participantes relatem experiências pessoais e dúvidas relativas às questões ambientais, questões de auto-estima, realização pessoal e profissional, etc.

Partimos do pressuposto de que, como já dissemos de várias maneiras, a interatividade é uma ferramenta essencial, já que a reunião dos próprios interessados em determinada questão, torna mais fácil o encontro de soluções para os diversos questionamentos. Neste trabalho partimos de uma tese própria desenvolvida há muitos anos cujo nome, desde 1987, é ABORDAGEM INTERATIVA METAFORMAL, que se expressa por atividades cujo foco são os processos de ampliação, intensificação e metamorfose do Pensar, Sentir e Agir, com os seguintes parâmetros para o trabalho:
– É uma dinâmica pedagógica baseada na confiança do ativo encontro entre as pessoas;

– Por uma revisão da Antropologia, propõe uma revolução epistemológica, no sentido que vai do pensar “complexo” até a total inversão do pensar normatizado;

– É a ação micropolítica pelo cuidado, pela vontade de preservar, no sentido de “cuidar de si e do Outro”, para além de quaisquer formas de normalização;

– É uma estratégia de intersubjetividade ativa, conscientemente estimulada, em contínuas metamorfoses, diferenciando-se, e assim indo além, dos processos terapêuticos e procedimentos pedagógicos normatizados (profissionais com “narrativas teóricas” pré-determinadas);

– Busca uma nova “narrativa da identidade”, tateando o “autor” por trás de seus personagens, para além da ideologia que acredita “saber de si ou do Outro”;

– Estabelece a desconstrução dos saberes fazendo cada pessoa encontrar o júbilo que nasce pela passagem do vazio para a solitude do ato criativo;

– Visa ampliar as estratégias de execução do conteúdo curricular desenvolvido em cursos de formação profissional focalizando, antes de tudo, o comprometimento pessoal, estabelecido por uma identidade assumida conscientemente e que seja independente de papéis sociais.

A ABORDAGEM INTERATIVA METAFORMAL, denuncia por vários modos a lógica perversa da ideologização em tantas teses, doutrinas e até em atividades sociais. Por isso pretende se manter como ABORDAGEM para não ser em nenhum momento uma ideologia; como INTERATIVA para priorizar o respeito à diversidade e a um ativo intersubjetivismo; como METAFORMAL por priorizar a ação criativa e evitar a acomodação, estimulando as contínuas e necessárias metamorfoses.

As atividades foram concentradas nas seguintes dinâmicas com seus diversos conteúdos:
– Dinâmicas de apresentação dos participantes;

– Dinâmicas de expressão corporl;

– Dinâmicas de focalização das habilidades pessoais, no sentido das pessoas perceberem em quais formas de atuação ocorre maior fluência e em quais ocorrem barreiras, dificuldades, bloqueios etc.;

– Dinâmicas de expressão gestual onde são estimuladas as expressões dos diversos personagens assumidos por cada um na vida pessoal, profissional e social.

Resultados:
Após três meses dessas atividades houve uma mudança substancial na abordagem pedagógica relativa ao meio ambiente, pois os professores se incluíam no processo e, nas aulas falavam com as crianças de como estas tinham que mudar suas atitudes, fazendo com que as campanhas de conscientização ficassem muito além do trivial que é de economia da água, cuidado com as árvores e animais. As campanhas internas nas escolas foram complementadas por uma passeata no dia cinco de junho, dia mundial do meio ambiente, onde os participantes usaram faixas, cartazes e pequenas performances teatrais que incluíram, entre outros aspectos:
– uma rediscussão da programação da TV e das atividades culturais na cidade;

– a exigência de melhor atendimento das pessoas no comércio, serviços, etc;

– maior transparência no trato com as coisas públicas.

Antes disso, por observação do pesquisador e pelos relatos dos professores e das orientadoras, as campanhas se limitavam a cartazes com os conteúdos comuns de preservação da natureza e economia dos recursos naturais. Com o trabalho dando ênfase à inclusão do próprio professor e aluno como sendo agentes e sujeitos do meio ambiente, ficou clara a mudança da postura. Isto pode ser verificado nos cartazes expostos nas escolas, nas conversas entre os professores e nos contatos entre o pesquisador com as orientadoras.

A partir daí as atividades relacionadas à Educação Ambiental passaram a incluir discussões sobre as próprias habilidades dos professores, alunos e mesmo da entidade escolar como um todo. Também foram propostas ações que visassem uma melhora na qualidade dos serviços em geral, no comércio, nas indústrias de malhas e chocolate, na hotelaria e nos diversos prestadores de serviços, incluindo até os profissionais liberais. Ocorreram debates de idéias de como a cidade poderia melhorar, participação política, cobrança de atitudes de vereadores, secretários municipais e mesmo do prefeito em suas decisões.

CONCLUSÕES
Os resultados demonstraram que esse tipo de seminários contribui para uma atuação pedagógica e social de grande abrangência levando a comunidade a uma maior participação. A noção de meio ambiente foi efetivamente ampliada, levando inclusive à maior exigência na qualidade de serviços em vários âmbitos do comércio e da indústria.

A visão de que a Pedagogia tem de ser ampliada para uma maior interatividade entre docentes e discentes não ficando apenas na mera divulgação ou comunicação de fatos ou idéias deve ser levada adiante por toda pessoa que observe a manutenção dessa atitude. Os participantes não deixaram de manifestar intensamente essa necessidade. No entanto, é conhecida a dificuldade de se levar um trabalho desse em instituições governamentais ou de caráter público.

Jürgen Habermas denuncia de maneira contundente como o Estado em sua forma padronizada de atuação tem sido inibidor de várias iniciativas no sentido da elaboração dos novos caminhos tornando-se, assim, mais uma, entre tantas outras vozes, na defesa da intersubjetividade, ativa e consciente, para a emergência do indivíduo como participante criativo em sua comunidade.

Assim embora ocorram essas dificuldades os fatos têm demonstrado o valor de todo o trabalho até porque tem sido comum encontrar com as pessoas que falam de sua saudade das reuniões, da importância de estarem refletindo sobre sua própria atividade e assim por diante.

(*) Josef David Yaari é psicólogo e pedagogo trabalhando com aconselhamento e orientação de grupos, empresas e escolas, compreendendo-as como centros da comunidade.
· Realizando Mestrado/Doutorado em Ciências Ambientais.

Fonte:
Créditos da Imagem – http://www.recriarcomvoce.com.br/blog_recriar/wp-content/uploads/2011/01/mao_plantando.jpg
http://br.geocities.com/cienciaonline2002/revista/02_08/artigo_especial/artigo.html