Artes

Arte Gráfica da Rússia

A Arte Gráfica Russa
A Exposição Gráfica Utópica retrata um período que vai do início do século XX ao início da década de 40, formada exclusivamente por cartazes, que representavam o veículo de comunicação em massa predominante na Rússia. E como também era uma arte, passou por várias tendências, mostrando a história do país nestes 40 anos.

No início do século, o art noveau exaltava a mulher, os detalhes e a relação das formas com os vegetais. Os cartazes eram bem trabalhados, com riqueza de cores e detalhes. Após este período, os cartazes da década de 10 eram bem mais simples, com riqueza de formas geométricas, retratando o russo trabalhador e vitorioso. Estes cartazes, de grande tiragem eram direcionados para as massas e criticavam diretamente a nobreza, como num cartaz em que é mostrado o czar no alto de uma pirâmide, com estratos como burguesia, clero, nobreza que vivem às custas do sofrido povo trabalhador: por isso a revolução era necessária. Era exaltada a mulher campestre, o trabalhador, na cor vermelha, consertando a locomotiva russa. O vermelho lutando, para que o povo estivesse no poder.

Pode-se então notar a enorme conotação política que os cartazes alcançavam, de tal modo que mais tarde, alguns seriam copiados. É o caso do cartaz que mostra um soldado do exército vermelho, que convoca o povo para se alistar. Anos depois, torna-se o gesto do Tio Sam norte americano e também utilizado em cartazes da revolução de 1932, no Brasil em que o soldado repete o gesto.

Após a revolução, os cartazes passam a ter uma importância também publicitária. Surgem cartazes sobre filmes, produtos e serviços. Cigarros, peças teatrais, alimentos e tudo mais são retratados em cartazes. Um dos cartazes contra o analfabetismo mostra um garoto feliz por usar os livros do Governo. O cartaz era do início do governo Stálin, época em que este concedia uma série de benefícios ao povo para conquistar seu apoio. E como um livro do Governo, cabia ensinar o que lhe era conveniente.

Após este período, nos últimos anos retratados na exposição há o auge da ditadura stalinista, com a anulação da liberdade de expressão e a propaganda bélica em alta. É o realismo socialista.

A cor das paredes também é um fato importante. Nas salas vermelhas, o líder Lenin é marcante tendo como enfoque a revolução de 1917 e a posterior guerra civil que iria perdurar até 1921. As salas são vermelhas porque o vermelho era a cor da revolução e intuitivamente ligada à cor do socialismo, o vermelho. Os artistas faziam questão de retratar o povo, o trabalhador, o agricultor em vermelho. Dessa maneira as massas eram colocadas como o centro da revolução, seu coração e sua alma. Haviam cartazes dos brancos, ligados ao czar deposto e morto, que mostraram a face negativa, o povo faminto fugindo desesperado das cidades em chamas. Porém o que imperava era o povo vermelho, revolucionário e ativo.

Com o fim da guerra, Lenin governara por apenas alguns anos, morrendo em 1924. Porém a luta não poderia acabar e nos cartazes de sua morte, através de colagens, Lenin era retratado como o herói e como herói mereceria ser lembrado para sempre. Além disso sua morte não significaria o fim de tudo, a URSS deveria continuar.

A sala negra retratava o período stalinista. Há divergências em relação ao porquê do uso do preto. Pela interpretação podemos dizer que o período ditatorial de Stálin era negro, ou que os soviéticos estavam de luto com tantas mortes. No entretanto, o instrutor explicara que tanto o preto e o vermelho eram cores muito difundidas na arte gráfica russa. Dessa maneira, a sala de Stálin era negra apenas por estética, ou por interpretação do decorador.

Stálin representou um papel fundamental na história da URSS e por isso não poderia deixar de ser retratado com freqüência. Nos cartazes ele é mostrado como o líder, como no cartaz que ele aparece conduzindo o barco, identificado como a União Soviética. Isso não quer dizer que ele era “santo”. Não podemos nos esquecer que a propaganda era gerada pelo governo, que obviamente mantém a boa imagem de Stálin, numa época em que logo após a morte de Lenin o povo estava “órfão”. Por isso num cartaz ele é colocado ao lado de uma estátua de Lenin, deixando a entender que ele era sua continuação, sua encarnação que conduz o povo soviético, que vem logo atrás de Stálin. Junto com a montagem os dizeres “Com a bandeira de Lenin vencemos as batalhas da revolução”. Não podemos deixar de notar que o tempo todo Stálin olha para o distante, o horizonte, não para o observador, mostrando que Stálin era um visionário. Cartazes que mostram os imensos soldados soviéticos esmagando as bandeiras e os soldados da Itália, Alemanha e Japão, países do eixo e também da bandeira americana.

Um cartaz que chama atenção é aquele que representa uma mulher com um dedo sobre os lábios, indicando sinal de silêncio. Este significa que mesmo com as mortes, as lutas e as mortes de filhos e companheiros, as mulheres devem permanecer caladas. É um modo de coibir-se a oposição. Por fim, cartazes do início da década de 40 indicam a União Soviética em seu pleno desenvolvimento militar, a imagem do homem, da mulher, do tanque de guerra e do avião, todos dispostos em direção do horizonte, do futuro. Estes cartazes que fazem parte do período stalinista põe fim a uma série de invenções e introduz a lógica do realismo socialista.

Nos primeiros anos do século XXI podemos conhecer a Rússia – União Soviética retratada pelos seus próprios cidadãos. As letras podem causar confusão, mas os temas dos cartazes principalmente dos políticos são profundos e marcantes, gerando grande interesse por parte nossa.