História

Economia na República Velha (1894-1930)

Política Financeira de Campos Sales (1898-1902)
Campos Sales era cafeicultor e tem dois problemas: a inflação e a dívida externa. Ele precisa resolver esses dois problemas e não está preocupado com a população.

A inflação foi criada na política emissionista do Deodoro => havia excesso de dinheiro em circulação, esse dinheiro em circulação recebe o nome de liquidez. Então, é necessário reduzir a liquidez do mercado e ele vai fazer isso, assim como foi no Plano Collor (1990) => Collor indisponibilizou o dinheiro que estava na poupança durante 1 ano e meio, com essa medida ele causou a “desgraça” financeira de muitas pessoas e diminuiu a inflação em 2 meses de 84,32 % ao mês para zero (acabou com a inflação, pois não há dinheiro para comprar os produtos), mas o PIB teve uma queda de 4,5 %. Assim também ocorreu no governo de Campos Sales, mas a desgraça que foi provocada foi ainda maior; as fábricas que não tinham fechado na crise do Encilhamento, tiveram sua falência agora, houve desemprego, o governo cortou gastos sociais e pessoas morreram de fome no Rio de Janeiro. A inflação acabou, mas depois vem outro presidente (Afonso Pena) que desfaz tudo e passa a emitir papel moeda.

O Brasil ainda tem o problema da dívida externa que é muito grande e consome toda a riqueza produzida no país. Aí, o Brasil resolve fazer o funding-loan (renegociação da dívida). O Brasil vai parcelar sua dívida em vários anos:

» Durante os 3 primeiros anos após a assinatura do acordo, o Brasil não pagaria nada (nem juros, nem o principal). Ele não resolveu o problema da dívida, e sim, apenas o seu problema (“quem vier depois, o problema é dele”).

» Do 4.º até o 13.º ano, só iríamos pagar parcelas diminutas (pequenas) dos juros => não se paga o principal. Continua sem resolver os problemas do Brasil, foram resolvidos apenas os problemas dos próximos presidentes.

» Do 14.º até o 63.º ano, iria ser pago o principal.

Toda vez que se faz um funding-loan, é somado o principal com o valor dos juros. O principal vai passar a ser maior e em cima desse novo principal vão ser cobrados mais juros => houve cobrança de juros em cima de juros. Campos Sales não pensava no que poderia acontecer com o futuro do país (com certeza, já estaria morto), houve apenas uma “resolução” temporária da dívida. Hoje temos uma dívida de 200 bilhões de dólares.

No 14.º ano quem vai estar governando será Hermes da Fonseca que não vai ter dinheiro para pagar a dívida e vai promover outro funding-loan e vai ser adicionado mais juros em cima da dívida que não pára de aumentar.

Rodrigues Alves
Depois de Campos Sales veio Rodrigues Alves e quando faltavam apenas 6 meses para acabar seu governo, ocorre o Convênio de Taubaté (1906) que era uma reunião de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro (os 3 estados mais ricos da União – são estados cafeicultores). Aconteceu um grave problema com o café => a produção de café da passagem do séc. XIX para o XX, aumentou em 60%, mas o consumo aumentou apenas 15%, com isso ocorre uma baixa no preço do café. Ao invés dos cafeicultores diminuírem a produção, vão querer que o prejuízo seja passado para a nação e não para eles. Como Rodrigues Alves já estava saindo do governos (não queria sujar sua imagem), vai dizer para os cafeicultores esperarem o próximo presidente que foi Afonso Pena.

Política de Valorização do Café (Afonso Pena – 1906-09)
Então, o Convênio de Taubaté acontece no governo de Rodrigues Alves, mas a política acontece no governo de Afonso Pena que é um cafeicultor mineiro. Para assumir a presidência, Afonso Pena teve que assumir a obrigação da política de valorização do café.

O Preço do café era de 45 francos-ouro por saca de café (60 Kg). Mas os cafeicultores queriam que fosse pago a eles o preço de 55 e quem tinha que pagar essa diferença de 10 era o governo, para isso, vai ter que realizar empréstimos externos (15 milhões de libras esterlinas no 1.º ano e até 1930 vão ser 75 milhões para comprar café – esse dinheiro poderias ser usado para que o Brasil se industrializasse). Se o café não fosse vendido, o governo teria que comprar o excedente não comercializado pelo preço de 55.

Em 1929, ocorreu o “crack” da bolsa de NY e ficaram sem ser vendidos 27 milhões de café. A sorte é que houve a Revolução de 30 e os cafeicultores foram retirados do poder.

O problema é que a maioria dos agricultores vão passar a plantar café porque sabem que o governo vai pagar um preço bom (mas não há mais mercado). Outro problema é que a maioria vai passar a plantar e colher o café de qualquer jeito, porque sabia que o preço seria o mesmo do bom e do mau produto (55 francos-ouro por saca) e tendo um gasto menor, o lucro seria melhor.

Outro efeito está na bolsa de comodities de Chicago: (bolsa mais importante de matérias-primas. Todos os produtos primários são cíclicos: uma época de safra (muitos produtos a um preço baixo) e a outra de entre-safra (poucos produtos no mercado a um preço alto), já o café era estável porque o governo brasileiro retira todo o estoque do mercado, causando a estabilidade mundial do preço do café, aí vão aparecer outros países interessados em produzir o café: Guatemala e Colômbia. Então, esses países passam a produzir incentivados pela estabilidade do produto. E quando forem produzir, farão um produto melhor que o brasileiro para poder competir e vão ganhar o mercado, aí aumentam os nossos estoques e o governo tem que comprar mais café, deixando mais estável o mercado e Colômbia e Guatemala passam a produzir cada vez mais.

Ainda no governo de Afonso Pena, foi criada a Caixa de Conversão: vão vender as moedas que entram no Brasil para servir de lastro à emissão de papel moeda, mas à medida que o tempo passa, o país diminui suas exportações (concorrência mundial) e não entra mais dinheiro, com isso, ocorre a inflação e logo a inflação cresce.

» OBS.: Campos Sales veio e criou um plano recessivo para acabar com a inflação, depois vem Afonso Pena e recria a inflação => o povo pobre passa por uma série de dificuldades, sem que haja uma solução final para o problema., pelo contrário, Campos Sales fez o funding-loan para tentar acabar com a dívida externa, agora vem Afonso Pena e com ele o aumento da dívida externa. E a tendência é que essa política de valorização do café se torne uma “bomba relógio”: porque o governo tem um certo recurso em mãos para usar na compra do café e esse recurso vai ficando cada vez menor, até que em 1930 só vai haver dinheiro para valorizar o café de São Paulo e não vai mais comprar o café de Minas Gerais, ocorre então a Revolução de 30. Aí, sem os cafeicultores no poder, poderá haver o desenvolvimento do país.

Plano de Estabilização de Washington Luiz (1926-30)
Washington Luís é um cafeicultor paulista. Ele vai pegar o país num verdadeiro caos => inflação, dívida externa, escassez de recursos, etc.. Aí, ao invés dele acabar com essa política de valorização do café que existe desde 1906, vai tentar resolver o problema de outra maneira.: vai criar uma nova moeda: o cruzeiro (antes eram os réis). Essa moeda vai seguir um padrão-ouro => ela é lastreada em metal precioso e para mostrar que o plano era sério, essa moeda vai ser conversível => quando alguém desconfiasse da moeda, poderia ir no Banco do Brasil e trocaria o dinheiro por ouro – era necessário que o Brasil tivesse que ter o ouro correspondente à emissão.

O Brasil não possuía tanto ouro assim, então vai recorrer a empréstimos externos: da Inglaterra foram 8 milhões de libras esterlinas e dos EUA mais 40 milhões de dólares => ao todo foram 30 milhões de libras esterlinas. Todo esse dinheiro foi convertido em ouro e posto na Caixa de Estabilização (guardava ouro para servir de lastro para a moeda brasileira) e a partir dessa Caixa foi emitida a nova moeda.

Sem dúvida alguma esse plano acabaria com a inflação, mas ninguém contava com um problema: o “crack” da Bolsa de Valores de NY em 1929. Quando ocorre isso, o governo americano resolve “pegar de volta” os investimento e vai tomar o dinheiro que foi emprestado para o Brasil, a Inglaterra faz o mesmo pois também entrou em crise e o Brasil “para não ficar de fora” também entrou em crise. A moeda brasileira já não vai ser lastreada em ouro e ocorre uma enorme inflação. Em 1929, Washington Luís tem que valorizar (comprar) 27 milhões de sacas de café a 55 francos-ouro, pois nem EUA, nem Europa vão comprar mais o café. Aí, ele rompe a aliança com MG, tenta comprar apenas o café de SP e explode a Revolução de 30, entra Getúlio Vargas e esse industrializa o Brasil.

O Brasil teve sorte por ter falido com todo mundo e não sozinho, aí GV põe todas as máquinas brasileiras que haviam no país para funcionar 24h por dia e de 1933 a 39, ele vai mandar os empresários brasileiros comprarem máquinas americanas a um preço baixíssimo (pois eles ainda estavam em crise). Em 39 o Brasil já vai estar forte, mas os EUA também vão estar e vão tentar vender seus produtos aos brasileiros, mas GV vai erguer enormes barreiras alfandegárias e com essa medida protecionista vai impedir a entrada de produtos estrangeiros no país. Os EUA só não nos invadiram porque em 39 começa a II GM. Quando, em 1945, acabar a guerra, o Brasil já vai estar industrializado (o único da América Latina). Mas, tudo deu certo porque GV soube aproveitar o momento em que o país estava.

» Diferença entre as “Caixas”:

Caixa de Conversão: governo de Afonso Pena, servia para converter a moeda (dinheiro que entra no Brasil) em moeda brasileira

Caixa de Estabilização: governo de Washington Luís, servia para fazer o lastro em ouro para a moeda brasileira

Surtos Industriais
Enquanto tudo isso não acontece, o Brasil fica com seu restrito parque industrial. Depois que os oligarcas assumem o poder, as indústria ficam completamente abandonadas: uma parte das indústrias faliu no plano de Deodoro, uma outra parte faliu na política recessiva de Campos Sales e o que sobra são fábricas muito pequenas. As fábricas que fecham, acabam tendo suas máquinas se transformando em sucatas. À medida que ocorre a crise, os grandes proprietários resolvem vender essas máquinas e quem as compra pertence à camada média urbana, então surge uma burguesia desvinculada da cafeicultura.

Então, as indústrias nesse período da República Velha não tiveram nenhuma política do governo para desenvolvê-las; há um pequeno crescimento em épocas especiais, onde a importação de industrializados não é possível. O surto industrial mais importante ocorreu no governo de Wenceslau Brás, devido à I Guerra Mundial (1914-18). Os europeus e americanos param de comprar café e os submarinos alemães “fecham” o Atlântico, com isso fica impossibilitada a importação de industrializados, surge então o surto industrial. Essa burguesia da classe média, então, aposta tudo o que tem na aquisição de máquinas. Ele se arrisca e vai se dar bem. É uma indústria rudimentar, mas os produtos serão vendidos para a classe mais pobre da sociedade. As camadas médias urbanas se fortalecem e começam a pensar na industrialização, urbanização, empregos, universidades, etc.. Agora fica bem claro que os oligarcas não mantêm mais a homogeneidade (estão falindo), porque o sistema não foi feito para permitir a existência de uma burguesia, mas essa aparece.

O Brasil passou a exportar para os países platinos (Paraguai, Uruguai e Argentina) e vai inclusive emprestar dinheiro para a Rússia. Ocorre o fortalecimento do proletariado e estes acabam fazendo greves: a mais importante foi a Greve Geral da cidade de SP – 1917 => agora a parada das empresas ganha importância, pois o país (o PIB) depende das indústrias. A greve começa com uma fábrica, onde os trabalhadores reclamavam do salário, do calor, do escuro e resolvem fazer greve, aí os trabalhadores das outras fábricas aderem ao movimento. Ocorre uma grande greve e nem a polícia (força pública), nem o exército de SP conseguem acabar com o movimento e a cidade passa a ser do proletariado, que vai saquear as mercearias e andar de bonde. Até chegar o exército do RJ, os trabalhadores vão ficar andando de bonde durante 4 dias…